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Linguagem da alma II
Linguagem da alma II

Linguagem da Alma II

"Trilhar o Caminho do meio é dizer um grande "sim" à vida, ao bom e também ao mau, a boa fortuna e também ao infortúnio. É caminhar exatamente pelo meio, enfrentando o sorimento e tudo, sem evitar nada que a vida traga, nem se deixar levar pelo sucesso ou pelo fracasso, elogios ou censuras, sofrimento ou prazer.

     *------------------------------------------------------------------------------------------------------------------*                              

A necessidade de dessacralizar o mundo é uma defesa (...) 

contra o ser tomado pelas emoções,

especialmente as emoções da humildade,

da reverência, do mistério,

do deslumbramento, do assombro..."

(Willis W Harman).

 

"Cada uma das virtudes deste mundo é validada pelo seu oposto.

A luz nada significaria sem as trevas, o masculino sem o feminino,o

                                                              cuidado sem o abandono.

As verdades sempre vêm aos pares, e temos de suportar isso para,

                                              estar em harmonia com a realidade.

Sofrer significa permitir; e nesse sentido sofremos o mistério da  

                                                                                   dualidade."

 (Robert Johnson Psicólogo Junguiano)     

 

" O homem que teme o sofrimento já está sofrendo pelo que teme"

Michel de Montaigne (escritor e ensaísta Francês)

 

"Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a

               real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz."

(Platão)

 

"O que diz sua consciência? Que você deve tornar-se quem é."

Friedrich Niezstche (filósofo Alemão).

 

'Quando você empreende a exploração interior como a principal tarefa da vida, a inquietação começa a desaparecer, e um profundo senso de significado e direção se instalam na alma. Com isso, lentamente, mas com certeza, as frustrações da vida começam a desaparecer, e são substituídas por intensa satisfação. Você só pode encontrar o seu lugar na vida, quando volta a atenção, em primeiro lugar para a razão de ter vindo a este plano de existência.'

 Susan Thesenga (Psicoterapeuta Americana).

 

Quando o ser humano entrega sua palavra ao outro, o faz esperando que esta seja devolvida a ele sem julgamentos, haja vista que os seus próprios julgamentos já trazem sofrimento o bastante.

 

É preciso aceitar:
“(...) o encanto de sua chegada e a nostalgia solene de sua partida (...).”

(Buber) 

 

"O sentido do determinismo psíquico é o de que na mente, assim como na natureza que nos cerca, nada acontece por acaso ou de modo fortuito. Cada evento psíquico é determinado por aqueles que o precederam. Os eventos mentais que parecem fortuitos ou não relacionados com aqueles que o precederam o são somente na aparência. Nesse sentido não existe descontinuidade na vida mental

Charles Brenner (psicanalista)

 

"Catexia é a quantidade de energia psíquica que se dirige ou se liga à representação mental de uma pessoa ou coisa (objeto). A energia não pode fluir através do espaço e catequixizar ou se ligar diretamente ao objeto. Aquilo que é catexizado são as lembranças,pensamentos e fantasias do objeto, o que chamamos de suas representações mentais ou psíquicas. Quanto maior a catexia, mais importante é o objeto psicologicamente falando ou vice-versa. Por exemplo as imagens, pensamentos e fantasias da criança à respeito de sua mãe, isto é, a representação mental da mãe na mente da criança  é altamente catequixizada. Assim, a energia psíquica impele o organismo para a atividade até que a gratificação seja alcançada."

Charles Brenner (psicanalista)

 

"Desejamos ressaltar que a relação entre uma atividade como o falar e a satisfação do impulso é normal num estágio inicial da vida. Sem a contribuição da energia do impulso, a aquisição da linguagem estaria seriamente comprometida, se é que simplesmente poderia ser adquirida. Podemos observar exemplos clínicos desse fato no mutismo e no retraimento de crianças psicóticas, que não têm relação de gratificação com adultos e cuja fala só é recuperada, ou só começa a desenvolver-se, quando, no decorrer do tratamento, elas recomeçam, ou começam, a ter tais relações."

Charles Brenner (psicanalista)

 

"O conceito de que a energia instintiva neutralizada fica à disposição do ego para a execução de muitas de suas funções está de acordo com o fato de que essas atividades do ego são autônomas, no sentido de não serem comumente perturbadas pelo fluxo dos impulsos, ou pelos conflitos intrapsíquicos provocados pelos impulsos, pelo menos depois da tenra infância."

 Charles Brenner (psicanalista)

 

"No trabalho clínico com um paciente, é evidentemente da maior importância prática saber qual é o perigo que o paciente mais teme inconscientemente. Freud afirmou que a ansiedade é o problema central da enfermidade mental, e essa afirmativa é hoje aceita pela maioria de nós." 

Charles Brenner (psicanalista)

 

"üência, deve ser combatida por uma contracatexia. Há mais dois pontos que queremos esclarecer acerca do mecanismo da repressão. O primeiro é que todo o processo se desenvolve inconscientemente. Não é apenas o material reprimido que é inconsciente, as atividades do ego qut constituem a repressão também o são. Uma pessoa não se dá mais conta de esquecer algo. A única coisa de que tem consciência é o resultado final. Há, entretanto, uma atividade consciente que é, de certo modo, análoga à repressão. Na literatura psicanalítica esta atividade é comumente designada como supressão. Consiste na conhecida decisão de esquecer alguma coisa e não pensar mais nela. É muito provável que haja intermediários entre a supressão e a repressão, e é mesmo possível que não haja uma linha de demarcação nítida entre ambas. Porém, quando empregamos a palavra “repressão”, queremos dizer que a barreira de acesso à consciência e o desenvolvimento de uma contracatexia durável ocorreram inconscientemente. O segundo ponto é que, quando algo é reprimido, não basta dizer que foi impedido à força de penetrar na consciência. É igualmente importante compreender que o reprimido tornou-se funcionalmente separado do ego como um todo e passou, então, a ser parte do id."

Charles Brenner (psicanalista)

 

"Quando ocorreu a repressão, o todo é que foi reprimido, e cm conseqüência, algo foi realmente subtraído da organização do ego e acrescentado ao id. É fácil compreender, desde que se o conserve cm mente, o fato de que a repressão em grau excessivo é prejudicial à integridade do ego. Percebemos, então, que cada repressão diminui realmente a extensão do ego e, portanto, torna-o menos eficiente que antes. Podemos acrescentar, como um método adicional, pelo qual a repressão reduz a eficiência ou a "força" do ego, que cada repressão exige do ego mais um dispêndio de sua limitada reserva de energia, a fim de manter a necessária contracatexia."

Charles Brenner (psicanalista)

 

"A propósito, conquanto estejamos mais habituados a pensar em formações reativas como as que mencionamos acima, que atuam no sentido de o indivíduo abandonar alguma forma de comportamento socialmente inaceitável por outro mais aceitável pelos pais ou professores, o inverso também é perfeitamente possível, isto é, o ódio pode parecer uma formação reativa contra o amor, a obstinação em lugar da submissão, e assim por diante. O que é decisivo na determinação da natureza exata da formação reativa em cada caso particular é a resposta à pergunta: “Que teme o ego como um perigo e, por conseguinte, contra ele reage com o sinal de ansiedade?” Se o ego. por alguma razão, teme o impulso de odiar, ou, mais precisamente, se teme os impulsos associados ao ódio, então a atuação do mecanismo de defesa de formação reativa deterá esses impulsos e os manterá sob controle, acentuando e fortalecendo a atitude de amor. Se é o amor que se teme, então ocorrerá o inverso."

Charles Brenner (psicanalista)

 

" A desaprovação do superego assume assim o seu lugar como a última de uma série de situações de perigo às quais o ego reage com ansiedade, a primeira dessas situações de perigo, cronologicamente falando, é a perda do objeto; a segunda, a perda do amor do objeto; a terceira, o medo da castração ou de uma lesão genital análoga; e a última, a desaprovação do superego. Como o leitor deverá lembrar, essas diversas situações de perigo não desaparecem sucessivamente à medida que a seguinte emerge. Mais comumente, cada qual por sua vez desempenha o papel principal como fonte de ansiedade e de oportunidade, para o ego, de empregar medidas defensivas contra quaisquer impulsos do id que precipitem a situação de perigo ou ameacem fazê-lo."

Charles Brenner (psicanalista)

 

"Assim como a desaprovação do ego pelo superego determina sentimentos de culpa e inferioridade, assim também os sentimentos de prazer, felicidade ou auto-satisfação podem ser o resultado da aprovação do ego pelo superego em virtude de comportamento ou atitude do ego que o superego tenha especialmente aprovado."

Charles Brenner (psicanalista)

 

"A atividade do superego possui duas características geralmente inconscientes na vida adulta e que revelam muito claramente sua relação com os processos mentais dos períodos remotos da infância em que se origina o superego. A primeira é a lei de talião e a segunda, a falta de discriminação entre desejo e ação."

Charles Brenner (psicanalista)

 

"Devemos acrescentar, que uma necessidade inconsciente de punição não tem necessariamente de acarretar ações criminosas que serão punidas por alguma autoridade legal. Pode-se procurar, em vez disso, inconscientemente, outras formas de sofrimento ou autopunição, tais como o malogro na carreira (a chamada “neurose do destino” ), lesões físicas “acidentais”, e coisas semelhantes."

Charles Brenner (psicanalista)

 

"Há uma importante relação entre o superego e a psicologia de grupo. Certos grupos, pelo menos, se mantêm unidos em virtude do fato de que cada um dos membros do grupo introjetou ou se identificou com a mesma pessoa, que é o líder do grupo. Em conseqüência desta identificação, a imagem do líder torna-se parte do superego de cada membro do grupo. Em outras palavras, os vários membros do grupo têm em comum certos elementos de superego. A vontade do líder, suas ordens e seus preceitos tornam-se, assim, leis morais para seus seguidores."

Charles Brenner (psicanalista)

 

"Mecanismo semelhante é o que, presumivelmente, está em jogo no caso de seitas ou grupos religiosos. Nestes casos também, os vários membros do grupo têm uma moralidade comum, isto é, elementos comuns do superego, que derivam da identificação com o mesmo deus ou líder espiritual. Neste caso o deus desempenha o mesmo papel, psicologicamente falando, que o líder ou herói do grupo não religioso. Isto não constitui surpresa, naturalmente, em vista da estreita relação entre deuses e heróis que sabemos haver existido bastante conscientemente nas mentes das pessoas, mesmo entre povos altamente civilizados, como os romanos ao tempo do Império que deificavam seus imperadores como coisa natural. Talvez possamos concluir nosso estudo acerca do superego, reafirmando os fundamentos de sua origem e natureza. O superego surge em conseqüência da introjeção das proibições e exortações paternas na fase edipiana e, pelo resto da vida, sua essência inconsciente continua sendo a proibição dos desejos sexuais e agressivos do complexo edipiano, apesar dos numerosos acréscimos e alterações que sofre mais tarde, na infância, na adolescência e mesmo na idade adulta."

Charles Brenner (psicanalista)

 o mais bem sucedidas forem as atividades integrantes do ego mais próximo ao “normal” será o resultado psíquico. Contrariamente, quanto menos bem sucedidas as atividades integrantes, mais obviamente parapráxico o resultado. Se procurarmos agora resumir nossos conhecimentos das parapraxias da vida quotidiana, diremos que são causadas por certa falha do ego em integrar, num todo harmonioso, as diversas forças que, em determinado momento, estão ativas na mente. As forças psíquicas inconscientes que, mais ou menos, resistem à integração e que conseguem, em maior ou menor grau, exercer influência direta e independente sobre o pensamento ou o comportamento em uma parapraxia, provêm às vezes do id, às vezes do ego, ou do superego, e, às vezes ainda. de dois ou de todos ao mesmo tempo. "

 Charles Brenner (psicanalista)

 

 

" A parapraxia ocorre apesar do ego. No caso do chiste, por outro lado, o ego produz ou permite, de boa vontade, uma regressão temporária e parcial ao pensamento de processo primário, estimulando, assim, a ab-rogação momentânea de suas atividades defensivas, o que permite a emersão dos impulsos inconscientes. O ego produz ou acolhe o chiste. Outra diferença, segundo nos parece, é que a tendência inconsciente que emerge temporariamente em uma parapraxia pode derivar do id, do ego, ou do superego, ao passo que, no chiste, a tendência até então inconsciente que emerge é habitualmente um derivado do id."

Charles Brenner (psicanalista)

 

"Na realidade, naturalmente, o equilíbrio entre a intensidade das defesas do ego e a do elemento latente do sonho é que determina se o sonho manifesto está mais próximo ou distantemente relacionado como o sonho latente, isto é, quantos disfarces foram infringidos, durante a atividade do sonho, ao seu elemento latente."

Charles Brenner (psicanalista)

 

"o sono tende a produzir um relativo enfraquecimento das defesas contra o reprimido, e, em conseqüência, este tem maior probabilidade de se tornar consciente durante o sono que durante o estado de vigília. Devemos compreender que esta diferença entre sono e estado de vigília é mais de grau que de espécie. É verdade que, durante o sono, um elemento do reprimido tem mais probabilidade de se tornar consciente que durante o estado de vigília, mas, como o vimos, em muito sonhos as defesas do ego introduzem ou impõem uma tal quantidade de distorção e disfarce durante a atividade do sonho, que o acesso do reprimido à consciência, dificilmente, é de forma muito direta nesses casos."

Charles Brenner (psicanalista)

 

"Como todos sabemos, por experiência própria, as impressões sensoriais de um sonho manifesto merecem todo crédito enquanto dormimos. São-nos tão reais quanto nossas sensa­ ções em estado de vigília. A este respeito, tais elementos do sonho manifesto são comparáveis às alucinações que freqüentemente se manifestam como sintomas em casos graves de doenças mentais. Realmente, Freud referiu-se (1916b) aos sonhos como psicoses passageiras, embora não haja dúvida de que os sonhos não são, em si próprios, fenômenos patológicos. Surge, pois, o problema de como explicar o fato de que o resultado final da elaboração do sonho, isto é, o sonho manifesto, seja essencialmente uma alucinação, ainda que uma alucinação normal, típica do sono."

Charles Brenner (psicanalista)

 

"Nos termos da teoria psicanalítica atual sobre o aparelho psíquico — a chamada hipótese estrutural — deveríamos formular nossa explicação de que o sonho manifesto é, essencialmente, uma alucinação mais ou menos como segue. Durante o sono, muitas funções do ego são interrompidas em maior ou menor proporção. Como exemplo, já mencionamos a re­dução das defesas do ego e a quase completa cessação da atividade motora voluntária. O que é importante para a presente argumentação é que durante o sono ocorre, também, um acentuado enfraquecimento da função do ego da prova da realidade, isto é, de sua capacidade para diferenciar os estímulos de origem interna e externa. Além disto, também ocorre durante o sono uma profunda regressão do funcionamento do ego a um nível característico da infância muito remota. Por exemplo, o pensamento se processa mais à maneira do processo primário que do secundário e é mesmo, essencialmente, pré-verbal, isto é, consiste em grande parte em imagens sensoriais que são primordialmente visuais. Talvez a perda do critério da realidade seja também mera conseqüência da ampla regressão do ego que ocorre durante o sono. Então, de qualquer modo, há tanto uma tendência de o pensamento se manifestar em imagens pré-verbais, principalmente visuais, e uma incapacidade do ego de reconhecer que essas imagens surgem antes dos estímulos internos que dos externos. Segundo cremos, é em conseqüência desses fatores que o sonho manifesto constitui uma alucinação visual."

Charles Brenner (psicanalista)

 

" Baseado em suas experiências conjuntas, Freud concluiu que os sintomas histéricos eram causados por lembranças inconscientes de acontecimentos acompanhados de intensas emoções que por uma ou outra razão não puderam ser adequadamente expressas ou descarregadas no momento em que ocorrera o acontecimento real. Enquanto as emoções permanecessem impedidas de se manifestar de maneira normal, persistiriam os sintomas histéricos. A conclusão a que chegou Freud como resultado de seu trabalho com Breuer foi que os sintomas histéricos e, podemos acrescentar, também os obsessivos, eram causados por um acontecimento esquecido do passado cuja emoção concomitante nunca fora adequadamente descarregada. Logo acrescentou a isto a formulação decorrente de observações e reflexões posteriores, que, para ser patogênico, qualquer experiência ou acontecimento psíquico deve repugnar ao ego a tal ponto que este o procure afastar e contra ele se defender "

Charles Brenner (psicanalista)

  a que chegou Freud como resultado de seu trabalho com Breuer foi que os sintomas histéricos e, podemos acrescentar, também os obsessivos, eram causados por um acontecimento esquecido do passado cuja emoção concomitante nunca fora adequadamente descarregada. Logo acrescentou a isto a formulação decorrente de observações e reflexões posteriores, que, para ser patogênico, qualquer experiência ou acontecimento psíquico deve repugnar ao ego a tal ponto que este o procure afastar e contra ele se defender." 

 

"Charles Brenner (psicanalista)

 

"Freud também conseguiu demonstrar que os sintomas psiconeuróticos, como os elementos de um sonho manifesto, tinham um significado, isto é, um conteúdo latente ou inconsciente. Esses sintomas podiam ser descritos como expressões disfarçadas e distorcidas de fantasias sexuais inconscientes. Isto levou à formulação de que uma parte, ou toda a vida sexual, de um paciente psiconeurótico revelava-se em seus sintomas."

 Charles Brenner (psicanalista)

 

"Segundo a moderna teoria psicanalítica, aquilo a que nos referimos clinicamente como perturbações mentais pode ser mais bem compreendido e formulado como evidência do mau funcionamento do aparelho psíquico em grau e maneira diversos. Como sempre, poderemos nos orientar melhor se abordarmos o assunto sob o ponto de vista genético ou de desenvolvimento. Ressalta-se que há várias possibilidades de perturbações durante a primeira infância, em que as diversas partes ou funções do aparelho psíquico estão em processo de desenvolvimento. Por exemplo, se o bebê foi privado do contato e do estímulo físicos, normais, pela figura materna durante o primeiro ano de vida, muitas funções de seu ego deixarão de se desenvolver de maneira apropriada e, em conseqüência, sua capacidade de se relacionar com o ambiente externo e de com ele lidar poderá ser prejudicada." 

Charles Brenner (psicanalista)

 

" Além disso, mesmo após o primeiro ano de vida o desenvolvimento das indispensáveis funções do ego poderá ser prejudicado pelo malogro em criar as necessárias identificações, em vista de frustração ou tolerância excessiva e, em conseqüência, o ego torna-se incapaz de desempenhar da melhor forma possível sua tarefa primordial de mediador entre o id e o ambiente, com tudo o que isto implica em relação ao controle e neutralização dos impulsos, de um lado, e, de outro, da máxima exploração das oportunidades de prazer que o ambiente pode proporcionar."

Charles Brenner (psicanalista)

 

"Se considerarmos as mesmas dificuldades do ponto de vista dos impulsos, poderemos facilmente compreender que estes devem ser devidamente controlados, porém não de maneira excessiva. Muito pouco controle dos impulsos fará com que o indivíduo seja inapto ou incapaz de se tornar um membro da sociedade a que o homem geralmente pertence. Por outro lado, a repressão excessiva dos impulsos acarretará resultados igualmente indesejáveis. Se o impulso sexual for demasiadamente reprimido e, em particular, isso acontecer muito cedo, teremos em conseqüência provavelmente um indivíduo cuja capacidade para o prazer será gravemente prejudicada. Caso o impulso agressivo seja o que ele indevidamente controla, então o indivíduo será incapaz de enfrentar qualquer competição normal com os seus iguais. Além disso, porque a agressividade, que não se pode expressar contra os demais, volta-se tão freqüentemente contra si próprio, o indivíduo pode se tornar, de maneira mais ou menos evidente, autodestruidor."

Charles Brenner (psicanalista)

 

"As restrições do ego, bem como as fixações e regressões do ego, como do id, produzem traços de caráter que tenderemos a chamar de normais se não interferirem indevidamente com a capacidade de prazer do indivíduo e sua habilidade para evitar graves conflitos com seu ambiente, ao passo que tenderemos a chamá-los de anormais se interferirem em grande escala com o prazer, colocando-o em sério conflito com seu ambiente."

 Charles Brenner (psicanalista)

 

" A distinção entre o que é normal e o que é patológico, dentre os padrões de desenvolvimento e funcionamento do aparelho psí­quico, que comentamos nas últimas páginas, tende a se fazer de acordo com a maior ou menor restrição da capacidade de prazer do indivíduo, e com a maior ou menor proporção em que está prejudicada sua habilidade para se adaptar ao ambiente."

Charles Brenner (psicanalista)

 

"Quanto à terminologia, quando um padrão de funcionamento psíquico do tipo que acabamos de descrever é considerado anormal, é geralmente classificado, no jargão clínico, como perturbação do caráter ou neurose do caráter. Essa classificação refere-se então, geralmente, a um tipo de funcionamento do aparelho psíquico considerado suficientemente desvantajoso para o indivíduo para ser chamado de patológico, mas que, não obstante, representa um equilíbrio relativamente fixo e estável no interior da psique, o qual se estabeleceu, como o deve fazer qualquer equilíbrio intrapsíquico, em virtude da interação entre as diversas forças contidas na psique e as que a influenciam de fora, durante o processo de crescimento."

Charles Brenner (psicanalista)

 

"A experiência clínica com muitos pacientes reforçou a impressão original de Freud de que os traços de caráter são, com muita freqüência, derivados de desejos e conflitos anais numa fase remota da infância. Pela mesma razão, o termo “anal” tem sido aplicado também a indivíduos que de modo geral são desorganizados, sujos e relaxados. A auto-segurança, o otimismo e a generosidade, assim como seus opostos, têm sido igualmente descritos como traços de caráter orais, ao passo que a ambição e a necessidade de reconhecimento e admiração têm sido rotuladas de fálicas."

Charles Brenner (psicanalista)

 

"A família de uma criança pequena — seus pais e irmãos — são essencialmente todo o seu mundo. Seus impulsos sexuais e agressivos em direção aos membros de sua família fazem surgir os desejos e conflitos que caracterizam a vida mental da infância: o amor apaixonado, o ciúme violento, a raiva, o terror, o remorso, os esforços prementes para controlar seus impulsos assustadores e aplacar e agradar seus pais, que lhe parecem oniscientes e onipotentes. A religião faz do mundo inteiro uma nova versão da família da criança pequena, uma família em que o crente é uma criança, e os deuses e sacerdotes são seus pais. Como seus pais, eles lhe dirão como deve comportar-se, o que deve ou não desejar, e responderão a suas perguntas sobre o mundo, especialmente como o mundo começou, questões que todo o adulto deseja saber, assim como toda criança deseja saber como seu pequeno mundo começou, isto é, como ela foi feita, de onde ela e os outros bebês vêm. Como Freud (1933) observou, a religião tem uma tríplice função para os crentes. Oferece-lhes uma cosmologia, um código de comportamento, e um sistema de recompensas e punições, as mesmas funções que seus pais preenchiam em sua infância."

Charles Brenner (psicanalista)

 

" Cada religião revela, entre outras coisas, uma tentativa para aliviar a ansiedade de seus crentes e, ao mesmo tempo, permitir algum grau de gratificação instintual. Isso é feito por seu código de ética ao oferecer respostas para a questão, “o que devo fazer para que os deuses (meus pais) me amem e protejam, ao invés de me odiar e punir por meus desejos e ações sexuais e homicidas?"

Charles Brenner (psicanalista)

 

"Nos tempos atuais, a religião, como instituição social, tem estado em decadência. De modo geral, esse declínio pode ser atribuído ao impacto psicológico dos desenvolvimentos científico e tecnológico nos três últimos séculos. Galileu, mais do que qualquer outro, iniciou os acontecimentos que levariam finalmente àquelas conseqüências que a Igreja tentou evitar forçando-o a retratar-se e mantendo-o prisioneiro por toda a vida. No entanto, levou muito tempo para que o progresso da ciência afetasse as crenças religiosas da humanidade num grau mais profundo. Até uma época tão recente quanto 1915, cada governo no mundo esposava alguma crença religiosa. Não havia um só oficialmente ateu. No momento, os governos dos dois países mais populosos do mundo, China e União Sovié­ tica, condenam todas as religiões. Assim como os de muitos outros países menores. Mais de um quarto da população mundial vive nesses países. O que está acontecendo à crença religiosa desse bilhão de seres humanos? Não há dúvida de que alguns se apegaram conscientemente a uma ou outra religião, mas centenas de milhões estão conscientemente de acordo com seus líderes políticos e intelectuais, com seus governantes e professores, de que todas as religiões são fatualmente incorretas, de que seus deuses não existem, de que suas promessa- de uma vida após a morte são ilusórias, quer sejam a esperança do paraíso ou o medo do inferno, e de que suas cosmologias são apenas mitos fascinantes de povos primitivos, acientíficos, ignorantes, independentemente do dom poético que possam ter tido. Se a religião vem de uma fonte tão profunda da vida mental, como afirma a psicanálise, parece impossível que desapareça simplesmente sem deixar algum substituto. Com certeza, as conseqüências inconscientes dos conflitos instintivos da infância que motivaram os povos a participar de crenças e práticas religiosas organizadas, por séculos e séculos, devem ser tão fortes entre os chineses e soviéticos quanto entre os demais habitantes do mundo. Quais são suas manifestações numa sociedade ateia, não religiosa?"

Charles Brenner (psicanalista)

 

"A resposta parece ser que, nesses países, a política ocupa a mesma posição psicológica da religião em outras áreas. Para cada indivíduo, serve a muitas de suas funções principais. Ao invés de procissões e festivais religiosos, dos quais participam os crentes, há festivais políticos. Ao invés de imagens reli estandartes e quadros políticos. Ao invés dos antigos deuses ou animais divinos, há Marx e Lenin. Ao invés de sacerdotes, há líderes políticos que impõem obediência, amor e terror respeitoso. Além disso, há uma forte tendência moralista nos ensinamentos socialistas ou comunistas. Como ocorre na maioria das religiões, o “bom” é o que se submete e acredita, o “mau” é o que não o faz. Ainda mais, há uma promessa, às vezes só implícita, mas às vezes explícita, de que o advento do socialismo trará consigo uma espécie de céu na terra, o equivalente do final estereotipado dos contos de fada, “ .. . e viveram felizes para todo o sempre.”

Charles Brenner (psicanalista)

 

"De fato, a experiência analítica com pacientes individuais tem mostrado que todo aquele considerado como mais velho e como estando numa posição superior em sabedoria, aütoridade e capacidade, inconscientemente pode representar, e representa, um pai. Qualquer burocracia, na verdade, não é imposta somente a partir de cima. É suportada por baixo também, e a atitude dos humildes em relação a seus governantes, em qualquer sociedade, tem raízes inconscientes nos seus respectivos desejos e conflitos edipianos. O presidente de uma república é inconscientemente olhado como um pai, tal como são vistos Deus, um ditador, um rei divinamente ungido ou um semideus imperial. A diferença parece estar no vigor com que uma determinada sociedade ou organização social insiste na realidade de que uma pessoa, ou um número relativa nente pequeno de pessoas, possui verdadeiramente os atributos que as crianças pequenas costumam conferir a seus pais: que eles são tão sábios a ponto de serem oniscientes, tão fortes que chegam a ser onipotentes, e tão bons que não têm pecado ou imperfeição. Que amá-los e obedecê-los, é ser bom, vale dizer, merecer, em retorno, amor e recompensa, enquanto não amá- los nem obedecê-los, é ser mau e merecer o castigo que eles indicarem."

Charles Brenner (psicanalista)

 

"Quanto mais uma organização religiosa ou um sistema político aproximam-se desses critérios, mais claramente aparecem como uma reprodução adulta da vida mental da infância, uma idade inconscientemente esquecida pela maioria dos adultos, mas ainda inconscientemente ativa e que os impele a repetir sua infância por toda a vida, em caminhos incontáveis. No que diz respeito à política e à religião, a tendência para a duplicação da situação familiar da infância em instituições do mundo adulto é inconfundível, uma tendência tão observada na sociedade atual, quanto nas sociedades de cinqüenta séculos atrás."

Charles Brenner (psicanalista)

 

" A crença supersticiosa deve-se a que o “poder”, seja de quem for ou qual for, que fez com que as estrelas se movessem, os pássaros voassem ou o sol cessasse de brilhar, fez tudo isso para nos dizer o que podemos ou não fazer, sem medo de castigo agora, e como seremos favorecidos no futuro. Tendo por base o que sabemos da vida mental inconsciente, parece lógico concluir que essa crença, como a de um adulto religioso em Deus, deriva das atitudes da criança em relação aos pais. Na infância é o pai quem diz o que se pode ou não fazer. Se os pais são desobedecidos, espera-se o castigo. Na infância são também os pais que respondem pelo futuro, que têm nas mãos o poder de gratificar os desejos da criança, ou frustrá- los, destruindo suas esperanças e seus planos. O supersticioso, que acredita em augúrios e adivinhos, é ainda, inconscientemente, uma criança, parece-nos, que adota uma atitüde de obediência submissa em relação aos pais, ávido em apreender seus desejos e obedecê-los, a fim de merecer seu amor e sua ajuda. Como se poderia predizer, aceitando-se essa explicação, astrólogos e adivinhos — representantes na vida real dos “poderes” que, acredita-se, guiam o destino das pessoas — são usualmente homens ou mulheres mais velhos, em geral bastante idosos, tal como os pais parecem ser quando se é uma criança pequena."

 Charles Brenner (psicanalista)

 

" Foi apenas com a descoberta e aplicação do mé­ todo analítico que se tornou evidente que a primeira ocasião para um conflito sério entre gerações não é na adolescência, mas na infância primitiva, usualmente na fase edipiana de desenvolvimento. Conflitos posteriores são uma segunda ou terceira versão do original. Há algo de novo, mas grande parte é a mesma. O ponto importante é o quanto da repetição do passado está inconsciente na vida adulta. A um observador, o comportamento adulto parece irracional, inexplicável, em desacordo com a situação, e é mesmo. Pode ser compreendido apenas em termos de um legado inconsciente da infância, que supre uma parte tão importante da motivação para as gerações envolvidas. No caso da mais nova, pode-se evidenciar, com freqüência cada vez maior, que as razões conscientes apresentadas para criticar e atacar a geração mais velha não explicam de todo o ardor e a veemência manifestados por ela. Algo mais deve estar envolvido, sendo responsável pela paixão tão evidente no ataque."

Charles Brenner (psicanalista)

 

"Os da geração mais velha, por sua vez, são igualmente motivados pelos desejos inconscientes, que se prendem a seus desejos instintivos da infância. Por exemplo, a geração mais velha pode ser inconscientemente identificada com seus pró­prios pais, os quais, ela ainda acredita inconscientemente, são onipotentes e ameaçam destruição ou castração a todos que ousarem rebelar-se contra sua autoridade. Ambos os lados são humanos. Ambos são poderosamente dominados por seus desejos do passado — dos quais têm apenas, quando muito, uma vaga consciência — , isto é, por seus desejos instintivos e inconscientes, da infância. Assim, podemos entender a profunda verdade psicológica por trás da anedota de Mark Twain: “Aos dezessete anos, estava assustado com a ignorância de meu pai. Aos vinte e um, estava assombrado com tudo o que ele aprendera em apenas quatro anos.” Mas, por outro lado, devemos concordar também com a perspicácia intuitiva da observação de que uma razão para os líderes nacionais estarem sempre tão dispostos a ir à guerra é sua ânsia em dar a seus filhos uma oportunidade de se tornarem heróis mortos."

Charles Brenner (psicanalista)

 

"Um fato que muito impressionou os observadores dos acontecimentos políticos nessa era de revoluções, foi a freqüência com que os revolucionários, ao atingir o poder politico, tornam-se iguais àqueles contra quem se revoltaram. Quem, ontem, era o adversário da tirania, hoje é o tirano. Há cerca de noventa anos, Bernard Shaw observava, com seu humor costumeiro, que tudo o que. uma revolução consegue, é apenas mudar a carga da opressão de um grupo de ombros para outro. E ressaltemos que Shaw não era defensor do eatablishment, seu ou de qualquer outro. Pelo contrário, era socialista confesso e ativo. Estava somente exprimindo sua desconfiança na revolução como meio de atingir o socialismo."

Charles Brenner (psicanalista)

s notar também que em geral os revolucionários vitoriosos não têm consciência de que sofreram a transformação por nós descrita. Eles e seus seguidores consideram tal afirmativa como totalmente falsa. Pelo contrário, acreditam-se tão fiéis a suas idéias originais quanto antes: ainda campeões da liberdade, da igualdade e dos direitos humanos, ainda implacáveis inimigos da tirania e dos tiranos como os que derrubaram. Em sua opinião, quem disser que eles se tomaram como os antigos governantes, é um caluniador mal-intencionado, talvez um contra-revolucionário secreto. Parece, portanto,que os revolucionários aqui apresentados são motivados por um desejo inconsciente de se tornarem como os governantes que conscientemente detestam, para ocuparem a mesma posição, exercerem as mesmas prerrogativas e o mesmo poder, e gozarem da mesma autorid

Charles Brenner (psicanalista)

 

"Qual pode ser a origem de tal desejo inconsciente na mente de um revolucionário sincero, conscientemente convencido de que, se for vitorioso, será a verdadeira antítese daqueles que deseja derrubar? Pelo que sabemos da vida mental inconsciente, a resposta mais provável é que, nesse caso também, os desejos que estão envolvidos têm origem nos conflitos instintivos da infância. Crianças pequenas admiram seus pais, invejam-lhes a autoridade, e desejam livrar-se de um dos dois, a fim de se tomarem um pai. Com o tempo, esses desejos rebeldes, parricidas, tomam-se inconscientes para evitar a culpa e a ansiedade que os acompanham, formando, mais tarde, como falamos, uma parte inconsciente do motivo para a revolta contra a autoridade em geral, e para a revolução violenta, em particular. O revolucionário, conscientemente motivado pelo interesse no bem comum e pelo «desejo de democratizar a ordem social, tem por motivações inconscientes a admiração e a inveja pelos tiranos aos quais se opõe e o desejo de obter, para si, o poder que aqueles agora exercem. Assim, ao sair vitorioso, tende a se tornar como seus antigos governantes, embora não tenha o menor desejo consciente de fazê-lo — na realidade, bem pelo contrário." 

Charles Brenner (psicanalista)

 

"Os devaneios usualmente estão relacionados aos desejos não satisfeitos. O devaneio de um amante é consumar seu amor. O de uma criança, é ser adulto: talentoso e bem sucedido. O de um homem faminto é estar comendo uma deliciosa refeição; o de um homem sedento, é estar bebendo; o de um cansado, é repousar. Os exemplos podem ser facilmente multiplicados pela observação de si mesmo ou de outros, não sendo necessário um conhecimento psicanalítico. Quando se deseja muito alguma coisa, e há tempo para quimeras, tem-se o devaneio de que as necessidades estão satisfeitas e os desejos realizados. As exceções não são raras, pois há também devaneios desagradáveis, até assustadores; na sua maioria, porém, os desejos conscientes são conscientemente gratificados. Esse fato é bem conhecido e, como dissemos, facilmente confirmado. Mas a psicanálise tem algo a acrescentar. Os desejos inconscientes são também uma fonte importante dos devaneios."

Charles Brenner (psicanalista)

 

"Quando, no curso do tratamento psicanalítico, tem-se a oportunidade de analisar o devaneio de um paciente aplicando-se o método da psicanálise, observa-se que os desejos inconscientes tiveram uma parte importante em sua formação. Muitos dos desejos instintivos da infância per-manecem para sempre mais ou menos insatisfeitos, eternamente impelindo cada indivíduo, com maior ou menor insistência, a buscar sua gratificação, mesmo que desconheça sua existência, ignore o que deseja obter e satisfazer. O devaneio é um modo de conseguir algum grau de gratificação."

Charles Brenner (psicanalista)

 

"É do conhecimento geral que qualquer desafio maior a uma crença já aceita, tende a deixar inquieta a maioria das pessoas. A maior parte da humanidade não gosta de ver tão rudemente contestadas as idéias com as quais já se acostumou. Por isso, luta contra as mudanças. Como esperaríamos do que foi dito anteriormente, ela se defende das novas idéias a fim de evitar ou minimizar o desconforto mental, o desprazer associado à possibilidade de mudança. Seria interessante especular sobre os medos inconscientes associados a tais mudanças, mas aqui não é o lugar para essa discussão. O próprio Freud, no trabalho acima referido, enfatizou o papel do narcisismo. Quando o sentimento de importância de alguém é ferido ou traído, diz ele, resulta em desprazer. Os sentimentos inconscientes de inferioridade e desamparo, que datam da infância, são despertados com todos os conflitos a que dão origem."

Charles Brenner (psicanalista)